A maior descoberta de minha vida

A maior descoberta de minha vida


Descobri que o que sou mesmo é “INVENTOR”

Invento consertos e soluções

Invento músicas, letras e instrumentos

Invento artes plásticas e reinvento coisas do lixo

Invento poesias e poéticas...

Invento tanto, todos os dias,

Que desconfio ser eu minha maior invenção.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Patopatético


Opaco, patético
Deu pinta
Depois de um caneco
Comeu a galinha
E pirou no marreco
Caiu num poço de horror
Que a ti gela
Tantas ele fez
Mas botou a culpa nela

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Comas



Para que me comas
Deverás ter gosto aos temperos fortes,
Às pimentas das malaguetas,
Aos sais em pitadas de dedos cheios...
Para que me comas, mesmo ao desjejum,
Deverás ser dos de bom estômago,
Deverás inclinar-se às marés altas,
Aos matos densos,
Às torrentes nervosas.
Para que me comas,
Degustarás, de entrada,
Bifes de cobra e miúdos de porcos crus...
E minhas mãos, encontra-las-ás
Untadas de dendê
E meu fígado cozido em malte.
Para que me comas,
Deverás saber que o camarão à sua mesa
É o do mesmo que se alimenta
Com sabores pútridos

Das profundezas das águas.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Efêmero

O Efêmero é fêmea
num parir constante
Deusa da sedução a procura de par
Holofote a desnudar cores e coloridos e nuances sutis
Fêmea a compartilhar orgasmos
Com quem se encoraja a penetra-la

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Desinternação

Findos dias pacientes
Fim da sub-missão
aos doutores
liberto das paredes
ganho a hospitalidade
da estrada, minha cura
Interna ação que descobre
significados
Basta-me a liberdade
dos pássaros

Ser Estando



Estranho acordar naquele lugar, paredes novas para seus olhos e para seus outros sentidos também. Texturas, cheiros, sons, tudo diferente, novidades. Há anos planejava, há anos visualizava-se dentro de uma nova casa e agora, de repente, havia aquela com todos os pelos e poros e frestas... Sabia, em algum lugar em si que, nem aquela, nem nenhuma outra era ou seria sua morada definitiva. Mas naquela manhã ensolarada acordara ali. E talvez assim houvesse de ser para os próximos tempos, apostava, caso não houvessem influências muito contundentes do acaso. Mergulhou-se, passado o estranhamento inicial, em uma viagem particular de reconhecimento e tomamento de posse.
Não era grande, nem tão pequeno o sítio. Tinha uma vivacidade e um florescer de coisas e possibilidades que o encantaram amiúde. Idiossincrasias que lhe caíam à frente como gotas de uma chuva grossa de verão. Gotas a lhe causarem surpresas quase infantis, carregadas de frescores orvalhares que degustava intensamente naquela manhã invadida de sol, antes que o calor impregnado do dia e do tempo lhas dissipassem.
Somente não poderia esquecer-se que tudo aquilo era tão quase efêmero quanto o abrir e fechar de olhos de um piscar. Sabia-o assim pelo simples fato de que a morte não escolhe agendas e nem propaga cadernetas de fianças. Muito menos ela manda recados e quando ela chega, pode a noiva estar ainda no meio de sua especial maquiagem, ou o grande artista no início de sua principal obra, que ela interrompe tudo e os leva sem nenhum arrependimento ou menção de relevar. Então não poderia esquecer-se. Para não criar a ilusão da paixão avassaladora. Para não morrer antes do tempo da morte. Poderia, sim, amar, mas sem qualquer apego. Sabendo-se dono do etéreo. Sabendo-se enamorado e ao mesmo tempo livre.
Aquelas paredes, portanto, podia enchê-las de cores, de massas, rabiscos e ainda assim estas tatuagens não o acompanhariam quando de sua partida rumo à próxima moradia, seriam apenas lembranças vagas do tempo gasto a impregnar de impressões de si a já então finda morada. Ponderou muito, antes da primeira interferência a lograr. Decidiu, por fim, acender a luz - mesmo em dia claro - pois, avaliou ser prudente aperceber-se também das rachaduras, dos quebrados do assoalho, das fiações expostas, dos esconderijos dos insetos peçonhentos. Não sentiu nem angústia, nem ansiedade diante do exposto, sentiu simplesmente amor, cruamente amou. E então foi tomado por uma imensa alegria porque intentou e conseguiu aquele amor. E aquele amor o fez saber-se livre daquela e de qualquer outra moradia que viesse a ocupar. Pertencia e ocupava aquele tempo e aquele lugar enquanto ali estava e somente enquanto ali estava, eis sua liberdade.
E como segundo ato resolveu correr e testar todos os limites e cercas dali. Por entre jardins, árvores, espinheiros, gramas rasas, caminhos de britas, correu e constatou que tudo era muito maior do que supunha. Extasiou-se daquela corrida prazerosa e respirou-a cada segundo que pôde e conseguiu. Só parou no mergulho no rio, de olhos bem abertos e pulmões invadidos de ar. Banhou-se demoradamente para se lavar e para que as impressões daquele magnífico dia se espalhassem para o curso devido.
Naquela noite, em suas reflexões, viu-se acordar findo e adormecer-se deus.

Mário Deganelli.

domingo, 24 de março de 2013

Cotidiano (ode às vezes)


Às vezes, tristeza
Às vezes, nada ...
Às vezes, recomendo que me deixem!
Não quero mais AS VEZES!
Não a “As vezes” intransigentes que cegam ...
Às vezes, respondo o meu sono e minha apatia meticulosa.
Às vezes, repetidas vezes, dou meu sufocamento e pra onde olho a vista bate... tudo é próximo.
Às vezes há frestas entre um dia e outro e algumas iluminuras aparecem ...
São fantásticas visões improváveis,
São artes líquidas que soturnas descobrem seus caminhos.
Sangues rarefeitos imbuídos de oxigênio e sonho. Às vezes transbordam e multiplicam infinitas vezes e mancham:
- Marcas rupestres num cotidiano fatídico e urgente.

quarta-feira, 6 de março de 2013


Ônus

Do que é certo que terás de mim
Somente a honestidade – é o que controlo
Tudo mais são dúvidas e vontades
E tempos...