A maior descoberta de minha vida

A maior descoberta de minha vida


Descobri que o que sou mesmo é “INVENTOR”

Invento consertos e soluções

Invento músicas, letras e instrumentos

Invento artes plásticas e reinvento coisas do lixo

Invento poesias e poéticas...

Invento tanto, todos os dias,

Que desconfio ser eu minha maior invenção.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Ser Estando



Estranho acordar naquele lugar, paredes novas para seus olhos e para seus outros sentidos também. Texturas, cheiros, sons, tudo diferente, novidades. Há anos planejava, há anos visualizava-se dentro de uma nova casa e agora, de repente, havia aquela com todos os pelos e poros e frestas... Sabia, em algum lugar em si que, nem aquela, nem nenhuma outra era ou seria sua morada definitiva. Mas naquela manhã ensolarada acordara ali. E talvez assim houvesse de ser para os próximos tempos, apostava, caso não houvessem influências muito contundentes do acaso. Mergulhou-se, passado o estranhamento inicial, em uma viagem particular de reconhecimento e tomamento de posse.
Não era grande, nem tão pequeno o sítio. Tinha uma vivacidade e um florescer de coisas e possibilidades que o encantaram amiúde. Idiossincrasias que lhe caíam à frente como gotas de uma chuva grossa de verão. Gotas a lhe causarem surpresas quase infantis, carregadas de frescores orvalhares que degustava intensamente naquela manhã invadida de sol, antes que o calor impregnado do dia e do tempo lhas dissipassem.
Somente não poderia esquecer-se que tudo aquilo era tão quase efêmero quanto o abrir e fechar de olhos de um piscar. Sabia-o assim pelo simples fato de que a morte não escolhe agendas e nem propaga cadernetas de fianças. Muito menos ela manda recados e quando ela chega, pode a noiva estar ainda no meio de sua especial maquiagem, ou o grande artista no início de sua principal obra, que ela interrompe tudo e os leva sem nenhum arrependimento ou menção de relevar. Então não poderia esquecer-se. Para não criar a ilusão da paixão avassaladora. Para não morrer antes do tempo da morte. Poderia, sim, amar, mas sem qualquer apego. Sabendo-se dono do etéreo. Sabendo-se enamorado e ao mesmo tempo livre.
Aquelas paredes, portanto, podia enchê-las de cores, de massas, rabiscos e ainda assim estas tatuagens não o acompanhariam quando de sua partida rumo à próxima moradia, seriam apenas lembranças vagas do tempo gasto a impregnar de impressões de si a já então finda morada. Ponderou muito, antes da primeira interferência a lograr. Decidiu, por fim, acender a luz - mesmo em dia claro - pois, avaliou ser prudente aperceber-se também das rachaduras, dos quebrados do assoalho, das fiações expostas, dos esconderijos dos insetos peçonhentos. Não sentiu nem angústia, nem ansiedade diante do exposto, sentiu simplesmente amor, cruamente amou. E então foi tomado por uma imensa alegria porque intentou e conseguiu aquele amor. E aquele amor o fez saber-se livre daquela e de qualquer outra moradia que viesse a ocupar. Pertencia e ocupava aquele tempo e aquele lugar enquanto ali estava e somente enquanto ali estava, eis sua liberdade.
E como segundo ato resolveu correr e testar todos os limites e cercas dali. Por entre jardins, árvores, espinheiros, gramas rasas, caminhos de britas, correu e constatou que tudo era muito maior do que supunha. Extasiou-se daquela corrida prazerosa e respirou-a cada segundo que pôde e conseguiu. Só parou no mergulho no rio, de olhos bem abertos e pulmões invadidos de ar. Banhou-se demoradamente para se lavar e para que as impressões daquele magnífico dia se espalhassem para o curso devido.
Naquela noite, em suas reflexões, viu-se acordar findo e adormecer-se deus.

Mário Deganelli.

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