A maior descoberta de minha vida

A maior descoberta de minha vida


Descobri que o que sou mesmo é “INVENTOR”

Invento consertos e soluções

Invento músicas, letras e instrumentos

Invento artes plásticas e reinvento coisas do lixo

Invento poesias e poéticas...

Invento tanto, todos os dias,

Que desconfio ser eu minha maior invenção.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O conto dos bonecos de plástico

Que perfeição! Lábios carnudos, realçados por um brilhante batom cor vermelho-alaranjado que contrastava de maneira intrigante com seus olhos muito verdes e sua pele bronzeada pelo sol litorâneo diário... Descendo um pouco (e era impossível não faze-lo) destacava-se o mais perfeito pescoço nunca desenhado nas mais famosas obras primas, que era o caminho mais curto e instigante para se chegar àqueles enormes seios, mas nem por isso menos atraentes e graciosos. Dali para a cintura (e que cintura!) era como passear entorpecido pelo campo das margaridas, com seus cheiros e texturas. Complementando aquela escultura sobre-humana, destacavam-se seus indescritíveis quadris seguidos bem de perto por um par de COXAS (assim mesmo em maiúsculas) e inacreditáveis panturrilhas. Para finalizar, como não falar de seus pequeninos pés, travessos, delicados... Um metro e setenta e cinco de destilada feminilidade realçada por seus longos e encaracolados castanho-claros cabelos.
Quem a trouxe pra gente ver foi o Oswaldo que, quando interrogado sobre sua mulher, explicou-nos honestamente. Disse que a idéia havia partido dela e era para “apimentar a relação”.
Mas antes de seguirmos adiante nesta história, conheçamos o Oswaldo...
Sujeito que veio “lá de baixo” (como se costuma dizer) e conseguiu tudo com muito suor e sacrifício. Como esposa, contraiu a qual pôde, preocupado estava com a solidão e com as levianas, já que firme e certo era acerca de seu futuro, sob o jugo de sua ambição. E até que saiu ganhando, sobretudo no quesito “confiabilidade”. O que nunca lhe deixou muito sossegado foram as idéias “modernosas” de sua cônjuge, principalmente no tocante à intimidade – achava-a inventiva demais para o seu gosto. Balanceadas as diferenças, até podia intitular-se “feliz”, já que nunca havia dado muita importância para essas coisas de sexo. Ela não era bonita, mas agradava-o amiúde. Do mais, eram muito mais freqüentes seus cansaços que suas “obrigações” de marido. E talvez fruto dessa situação fosse aquela idéia entregue pela sua esposa.
O fato é que, baixado via internet e impresso em folha sulfite, o anúncio dizia: “homens e mulheres para todos os gostos! Acesse o link abaixo, digite o biótipo de sua preferência e visualize gratuitamente uma amostra de nossos produtos.”.
Mais para agradar a esposa, após dias de relutância, aceitou (embora diante da fotografia feminina exposta na tela do computador houvesse sentido um certo furor inédito e incompreensível e talvez por isso, algures ignorado). Sua esposa foi precisa e incisiva: negro, altura mínima 1,85m., traços refinados, inteligência média, musculatura definida sem exageros e órgão sexual com exagero; carinhoso, calmo e inventivo. Ele, pela dificuldade de adaptação a novas situações, sugeriu somente: bonita e gostosa. Mas gostou do retrato de corpo inteiro reluzente na tela de seu monitor.
Dias após, aquela figura já não era só um retrato como tantos outros guardados na pasta “minhas imagens”. Ao contrário, era aquela musa, motivo de ousadias enrubescedoras quando apresentada em público, mesmo escoltada com avidez pela figura mórfica e sisuda de Oswaldo. O prazer desse desfile foi-lhe sensível à pele quando finalmente pôde exibi-la em reunião informal e descontraída, no bar, a nós, seus subalternos colegas de empresa (faça-se saber que da qual era ele o dono). O Oswaldo, que sempre nos humilhou para que pudéssemos ter noção do quanto, segundo ele, éramos seres incapazes e inferiores e também para que isso contribuísse para o aumento de seu patrimônio; ele, que tantas vezes, oportunamente nos chamou de amigos e para o qual na maioria delas fingimos também o sermos, agora exibido que estava, esfregava aquele “sonho de consumo” com todas as suas inimagináveis curvas e odores em nossas vistas e falos, fazendo-nos sentir o peso de todas as nossas frustrações. E nós reagíamos como leões famintos a apreciarmos de dentro de nossas jaulas o cervo imponente desfilando suas fartas ancas, sabendo-se intocável e inatingível. Entorpeceu-nos e entorpeceu-se de afrodizíacos álcoois e perfumes de fêmea e depois partiu, mas não sem antes pagar-nos todas e a próxima rodada para mais um bocadinho de humilhação.
Já em sua casa, cada qual em um quarto diferente, deleitaram-se gemendo a perder de vista, Oswaldo e sua esposa. Uma névoa de sexo invadiu, como jamais, aquela residência.
Mas no silêncio da noite, quando todos jaziam desfalecidos pelas exaustivas horas de pornofilia, encontraram-se, em surdina, aqueles dois pérfidos seres e amaram-se possuídos pelo mais puro amor erótico.