Por Mário Deganelli
Os
motivos pelos quais a pessoa se torna dependente do uso de drogas, sejam elas
quais forem (licita ou ilícitas), estão muito mais ligados à falta de recursos
– internos e/ou externos – do que às pretensas teorias que as apontam como
vilãs-monstros que pode pegar qualquer um de nós. Não estou aqui negando o
poder destrutivo das drogas e nem que umas tem mais poder viciante que outras.
Estou atentando ao poder irreal e oportuno que se tem dado a elas. Falo em oportunismo
porque é muito cômodo e conveniente legar ao dependente a culpa de ter sido
fraco diante deste tal poder e ter se deixado capturar por ele numa relação que
envolve apenas dois personagens – a droga e o indivíduo.
Em
primeiro lugar um indivíduo ser humano, apesar de o termo aludir a isto, não é
um ser que se constituiu individualmente; ao contrário, foi através de
inter-relações que se formou e chegou até determinado ponto de sua história.
Quando digo inter-relações o faço no sentido mais ampliado deste termo, ou
seja, desde as relações que foram se estabelecendo em seus meios de convívio
social até às que foram sendo estabelecidas com o consumo em geral. Só para
explicar melhor sobre o quê estou falando basta pararmos quinze minutos de uma
tarde qualquer e acompanharmos a programação das redes abertas de televisão
para constatarmos a imensa oferta de soluções e receitas para lidar com os mais
variados tipos de situações e problemas do nosso cotidiano – meios para
emagrecer (relação mal resolvida com o que se come e com como se gasta a
energia adquirida), meios para aprender a se relacionar com o marido, com a
esposa, com o vizinho de condomínio, com os filhos, com o animal de estimação,
com o sol, com o computador e tantas outras ajudas. Diante disso, fico a pensar
se na verdade os seres humanos fracos e doentes são mesmo os dependentes, ou,
pelo menos, “só” eles. Quando faço essa experiência, assistindo, inclusive
programações que se julgam sérias e científicas tenho a nítida impressão (ou
constatação) de que vivemos em uma dita sociedade que não prepara os seus
indivíduos para a autonomia e para a responsabilidade em seus atos e escolhas.
Ao contrário, parece-me oportuno, volto a falar, que os indivíduos se enxerguem
incapazes de conduzir-se por suas próprias escolhas, para que as decisões que
se pautam em interesses avessos à sua própria vida não sejam questionados, já
que este empoderamento não lhe foi permitido. Daí é que criar monstros
fictícios e dar a eles poderes extraordinários torna-se uma artimanha
extraordinária. Não há algo ou alguém localizado contra quem lutar... o que há
é um ser abstrato indestrutível contra o qual você pode apenas ficar muito
alerta, já que a próxima vítima pode ser você ou alguém que você goste muito. E
enquanto toda a sua preocupação está dividida entre correr atrás de suprir suas
inapetências sociais ou lutar contra titãs maldosos que lhe roubarão a alma,
outros grupos de seres humanos, localizados um pouco acima deste “bololô”
social, engordam cada vez mais seus patrimônios e poderes de decisão.
Aliás, voltando à questão das drogas, parece-me
que na história da humanidade, nunca lidamos de maneira tão imbecil com elas.
Em sua imensa maioria as diversas civilizações e grupos de seres humanos que já
existiram a usaram para o crescimento e expansão de suas percepções, sendo elas
importante fonte alimentadora de conhecimentos e criações. Mas na nossa
sociedade pós-moderna-sabe-tudo ela virou caso de polícia e/ou hospício. Vamos
começar a falar sério ou vamos continuar tratando destas questões como
conteúdos de um programa vespertino televisivo?
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