A maior descoberta de minha vida

A maior descoberta de minha vida


Descobri que o que sou mesmo é “INVENTOR”

Invento consertos e soluções

Invento músicas, letras e instrumentos

Invento artes plásticas e reinvento coisas do lixo

Invento poesias e poéticas...

Invento tanto, todos os dias,

Que desconfio ser eu minha maior invenção.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


À mesa

Naquela mesa, posta diferente neste dia, de modo a acompanhar o formato do salão, estavam gentes de toda espécie, de todas cores, de todos cheiros, de todas vivências. Mas a chegada daquele casal maltrapilho, mijado, fedido e com palhas nos cabelos sebentos, trazidas da rua do último sono dormido incomodaram... os preconceitos suscitados entre os que deveriam ser seus pares também chamou a atenção. Incomodavam porque traziam em si, apesar do maltrapilho e da sujeira, uma vivacidade e um carinho de casal que transbordava pela mesa e ensopava o colo ressecado dos participantes daquele almoço. Um princípio de discussão querido por um, um chamar de atenção tentado por outro e o casal, impávido, respondendo com colheradas oferecidas na boca carinhosamente.
A proposta, trazida como sobremesa por D.Maria e o pessoal do consultório de rua, foi simples:
- Ao som do dedilhado no violão, será lido um poema de Cecília Meireles intitulado “o último andar”.
Ouçamo-lo:

O último andar

No último andar é mais bonito: 
do último andar se vê o mar. 
É lá que eu quero morar. 

O último andar é muito longe: 
custa-se muito a chegar. 
Mas é lá que eu quero morar. 

Todo o céu fica a noite inteira 
sobre o último andar 
É lá que eu quero morar. 

Quando faz lua no terraço 
fica todo o luar. 
É lá que eu quero morar. 

Os passarinhos lá se escondem 
para ninguém os maltratar: 
no último andar. 

De lá se avista o mundo inteiro: 
tudo parece perto, no ar. 
É lá que eu quero morar: 
no último andar. 

Logo após a leitura, mais som de violão, e após, mais leitura do mesmo poema e após, mais violão... tudo orquestrado pelas mãos habilidosas de D.Maria, que queria que prestassem atenção à escuta... na última vez o tocador acompanhou seu dedilhado com um assovio e outro assovio o acompanhou e surpreendeu desafiador os expectadores... Ivaldo era o nome daquele “Raul-seixaniano D.Quixote” que ao tomar o violão pra si protagonizou um belíssimo show com sambas-canções, romantismos e por vezes alguma malandragem do Bezerra da Silva... fez daquele lugar sua saudosa maloca e na sua maluquice não quis saber quem eram todos, não discriminou e ensinou-nos a também não discriminar. O público, ávido por aquele néctar, cantou junto, batucou, empolgou e se apossou daquele momento como nunca antes...

Dna.Maria, que sacou de um livro porque por acaso sua estante de prateleiras havia caído e por acaso escolheu “Cecília”, por acaso viu neste acaso a força transformadora imensurável da arte.

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